Tokenização é o processo de digitalizar ativos do mundo real, sejam tangíveis, como imóveis e carros, ou intangíveis, como royalties, direitos autorais ou patentes. No mercado imobiliário, essa tecnologia vem abrindo novas possibilidades ao permitir que imóveis sejam fracionados digitalmente, dispensando boa parte da burocracia tradicional. Por exemplo, um imóvel avaliado em R$ 1 milhão pode ser adquirido por diferentes investidores, cada um aportando valores distintos — R$ 100 mil, R$ 50 mil ou R$ 300 mil, conforme sua capacidade de investimento.
Embora seja possível estruturar negócios compartilhados sem a tokenização, esses processos ainda dependem de contratos complexos, cartórios, escrituras, compromissos de compra e venda e acordos formais demorados. A tokenização rompe essa barreira, trazendo agilidade, simplicidade e segurança jurídica por meio da tecnologia blockchain. E, como em outros setores, a tecnologia digital tem o poder de mudar comportamentos ao tornar processos mais fáceis e acessíveis tanto para investidores quanto para consumidores.
Vimos isso com a evolução da televisão. A antiga TV por assinatura foi substituída por plataformas como Netflix e Prime Video, não apenas pela oferta de conteúdo, mas pela facilidade de acesso proporcionada pela TV de LED conectada à internet, com um simples controle remoto. O mesmo aconteceu com o smartphone. O aparelho em si não trouxe todas as inovações, mas seu design com tela touchscreen, combinada à conectividade e capacidade de processamento, permitiu o surgimento de aplicativos que transformaram hábitos, como o Spotify, o Internet Banking, as redes sociais e serviços como o Uber.
Com a tokenização, o movimento é semelhante, embora ainda estejamos em um estágio inicial. Em breve, será natural que as pessoas fechem negócios imobiliários diretamente pelo celular, em conversas informais com amigos, oferecendo participação em frações de empreendimentos ainda em construção. E mais: a troca de ativos será ainda mais flexível, permitindo, por exemplo, que alguém ofereça ações da Petrobras como parte do pagamento por um token de um imóvel.
Essa transformação promete criar modelos de negócios mais sofisticados, ampliar o acesso ao mercado imobiliário e democratizar o investimento em ativos tradicionalmente inacessíveis para pequenos investidores e consumidores. A tokenização tende a facilitar transações mais ágeis, seguras e transparentes, abrindo caminho para um mercado mais dinâmico, inclusivo e digital.
No Brasil, o cenário ainda é embrionário, mas com avanços importantes. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já reconheceu tokens como valores mobiliários em determinados contextos, e algumas plataformas brasileiras vêm testando modelos de tokenização de imóveis e recebíveis. No entanto, ainda há desafios do ponto de vista jurídico, especialmente na integração entre os ativos digitais e o registro oficial de propriedades em cartórios.
Apesar desses desafios, o potencial transformador da tokenização é evidente. Como outras tecnologias disruptivas, ela não apenas moderniza processos, mas altera a forma como pensamos, consumimos, investimos e nos relacionamos com ativos. No mercado imobiliário, essa mudança pode ser tão significativa quanto foi o surgimento do smartphone ou do streaming de vídeo.