Um ciclo atípico: SELIC alta, oferta curta e preços em alta em vendas e aluguéis

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Não é comum, na história do mercado imobiliário brasileiro, vermos valorização simultânea nos preços de venda e nos valores de aluguel. Tradicionalmente existe um certo efeito de compensação: quando a taxa básica de juros sobe, o crédito fica caro, a compra esfria e parte da demanda migra para a locação — o que, em geral, acelera os aluguéis e desacelera os preços de venda.

O momento atual é mais complexo. Com a SELIC elevada por um período prolongado, os preços de venda continuam avançando. A produção de novos imóveis desacelerou e o estoque — sobretudo nas faixas de entrada — já não acompanha o ritmo de quem quer comprar. Resultado: falta imóvel para comprar e falta imóvel para alugar. Essa escassez empurra os preços para cima nos dois segmentos ao mesmo tempo, um movimento raro, especialmente em ciclos de juros altos.

Há um componente estrutural por trás disso. Diferentemente de países com pirâmide etária mais envelhecida, o Brasil mantém pressão demográfica e de formação de domicílios, o que sustenta a tendência de valorização ao longo do tempo. O que muda é onde a inflação incide: em alguns ciclos, recai com mais força sobre os aluguéis; em outros, sobre as vendas. Agora, a combinação de crédito restrito, estoque curto e demanda persistente evidenciou uma escassez que vinha sendo adiada por ajustes pontuais no financiamento — e que, daqui para frente, exige respostas mais estruturais em produção habitacional, planejamento urbano e estímulos à oferta de locação.

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